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Manifesto
english readers: please translate, I choose to write this in my own language

Você já pensou que quase nada mais nos pertence de verdade? Tudo que é digital agora é por assinatura. Toda rede social pega nossos dados. Nem nossas vidas estão mais nas nossas mãos. O 1% do mundo está nos fazendo de ratinhos de laboratório da grande experiência da vida deles: a Inteligência Artificial. Esse é um manifesto pelo retorno do pertencer e possuir (não na ótica do capitalismo, mas de não se curvar à vontade de poucos).

Sob a desculpa da convêniencia, assinamos streamings, usamos ferramentas de inteligência artificial e concordamos com tudo que estão fazendo com o planeta agora. Sim, streamings são MUITO fáceis. Você assina, assiste e seu cartão de crédito e dados sobre consumo ficam na mão de poucas coorporações. Muitas delas pertencentes a um mesmo conglomerado. E daí? Você pode pensar. E é sobre isso que eu quero falar agora.

Antes de começar quero pontuar que esse texto não está sendo escrito para que você se sinta culpado, pelo contrário. Eu assino streamings, compro jogos online e uso IA, direta e indiretamente, já que está por quase toda a internet agora. Esse é um convite à reflexão sobre o que fomos à 10 anos atrás e o que somos agora. Isso é ser hipocrita? Talvez. Mas para mim pertencer a esse mundo cheio de contradições não nos permite ser 100% coerentes, por mais que quisessemos.

Quando comprei meu primeiro laptop, com meu próprio dinheiro de adulta, fiquei meio chateada por que não achava um modelo bom e que viesse com leitor de CDs. Pensei em comprar um leitor a parte, mas não precisei. No começo o que pareceu mais uma simples conveniência (conseguir baixar tudo diretamente do navegador ou aplicativo), se tornou quase uma questão sociológica. Descobri que o que era meu, não era meu de verdade. Minha conta da Steam foi hackeada uns anos atrás e eu quase perdi muito dinheiro, afinal os jogos não estavam comigo, em CDs dentro de caixas, como já tivemos um dia. Estava tudo na minha conta. E não era somente uma assinatura que eu podia cancelar o cartão e pronto. Eu havia comprado aqueles jogos e se perdesse acesso à minha conta teria que recompra-los.

Os jogos não são meus, eles estão liberados para mim. Estão liberados para você. Até alguem invadir sua conta ou resolverem que esse jogo não vai mais existir.
Pense assim: se você tiver um modelo novo de PS4, sem a entrada para CDs, você corre esse risco. Se você tiver um PS2 bem conservado, ainda vai poder usar esses jogos. Melhor: vai conseguir emprestar aos seus amigos, passar para seu irmão mais novo ou um primo que queira jogar. Hoje, você não pode fazer isso. A Nintendo deixa até você compartilhar temporariamente um "cartucho virtual" com seus amigos, mas e se eu não quiser mais aquele jogo e quiser dar para outra pessoa? Já pensou como até pouco tempo atrás isso era comum? Eu sempre passo meus livros físicos para as pessoas, mas eu jamais poderia fazer isso com um e-book.

Mas antes esse fosse o pior problema. Como as coisas não nos pertencem mais, aquela versão antiga da música que seu artista favorito remasterizou não está mais disponível. Alguns e-books são editados e mudam automaticamente mesmo depois da compra, cenas de filmes podem ser editadas, ou completamente editadas. As coisas não são mais coisas, não são físicas, elas existem em um mundo completamente manipulavel.

Alguns podem argumentar que isso não seja necessáriamente ruim, pois uma frase racista pode ser tirada de um livro, por exemplo. Já eu sou a favor de novas edições publicadas virem com um aviso sobre por quem e em que contexto aquele livro foi escrito, aquele filme foi produzido, para que possamos refletir sobre práticas passadas, ter pensamentos críticos a respeito de autores e artistas.

Isso tudo acontece por motivos óbvios: cortar gastos, maximizar os lucros. Mas depois que se corta tudo, o que sobra para aumentar ainda mais o lucro? Nós mesmos, nossos dados.

Por muito tempo também me questionei qual o problema de fornecer meus dados para empresas, ao mesmo tempo em que ouvia que dados são o novo petróleo. São finitos e valiosos. Todos querem seus dados.
Com suas preferencias de gosto, mesmo as mais inocentes, como seu filme preferido, a cor que você mais gosta, as coorporações conseguem direcionar propagandas para você. Não viu problema nisso, não é? Parece conveniente. E seria, se isso não tirasse nossa autonomia. O algoritimo nos guia, você dá um like e de repente tudo o que você vê é aqueie conteúdo. Você não constroí seu algoritimo, ele te direciona para um objetivo claro: permanecer na plataforma e comprar seja lá o que eles eventualmente vão te vender.

Nem o que você posta nessas plataformas é mais seu: os vídeos, fotos, comentários, conversas privadas, tudo pertence a plataforma. E tudo é usado para treinamento de Inteligência Artificial. Por que demorou tanto para a IA chegar até certo ponto e depois ela avançou como nunca? Por que agora eles tem dados de bilhões de usuários das redes sociais para treinar seus modelos.

E você pensa que terminou? Claro que não.

Dados não ficam em nuvens, como muita gente realmente acredita (sério). Eles ficam em grandes datacenters, que usam muita água e tiram a paz de comunidades inteiras. As contas das pessoas aumentam, elas perdem o silêncio e o escuro da noite, pois essas instalações estão repletas de luzes e zunidos 24h por dia.

Comunidades inteitas são expulsas do lugar que gerações de suas famílias viveram. Para quê? Para fazermos vídeos de gatos fazendo coisas bobas, mesmo que isso já tenha de monte na internet. Mas isso somos nós, tem gente por ai focando em manipular eleições, acabar com reputações, fazer porn* (não só de adultos) com IA.

Eventualmente vou fazer uma pesquisa mais extensa sobre AGI e como os bilionários estão brincando com a sobrevivência terrestre. E infelizmente isso não é teoria da conspiração. Talvez isso vire um texto depois. Mas, por ora, eis o meu manifesto:

Não neguemos a evolução tecnologica, ela já nos trouxe muitos beneficios. Mas acima de tudo, não neguemos nossa conexão com o outro, o direito de possuír e o direito de escolha. O direito de conhecer coisas diferentes, de navegar sem rumo, de viver e descobrir outros gostos.
Pressionemos os governos por regulamentações de conglomerados, apoiemos os artistas e autores, questionemos as coisas fáceis, por que elas sempre vem com um custo.

E principalmente: taxem os bilionários, diminuam a desigualdade, ajudem a salvar o planeta de um colapso socioambiental.

yours truly,

Letícia